Eu não sou diferente... Os outros é que são muito iguais.

20061116

A (des)educação nacional

Isto a propósito da notícia veiculada ontem sobre como obter o 12.º ano sem frequentar a escola.

Os adultos sem o ensino secundário e com um mínimo de três anos de experiência profissional vão poder obter, a partir de Janeiro, um certificado das suas competências. Este processo é semelhante ao já existente para os adultos que não tenham concluído o ensino básico. Segundo o Público,

"o sistema de certificação de competências de adultos começou a funcionar em 2000 para o ensino básico e já reconheceu legalmente as competências de 50 mil adultos. Até 2010, o Governo espera que sejam certificadas competências a 650 mil pessoas devendo para tal alargar o número de centros dos actuais 270 para 500.
Cerca de 3,5 milhões de portugueses activos têm um nível de escolaridade abaixo do secundário. Deste 2,6 milhões têm no máximo o 9.º ano e mais de 1,5 milhões não têm mais que a 4.ª classe.
Na faixa etária dos 18-24 anos há 485 mil portugueses a trabalhar sem terem frequentado 12 anos de escolaridade.
"

O que me preocupa realmente é a faixa etária dos 18-24 anos...
Imaginemos agora que somos um elemento dessa faixa etária.
O que nos irá na cabeça? Isto:

"Não vale a pena preocupar-me com a educação a nível básico e secundário... As minhas competências são validadas, sem grande esforço... Porque me hei-de chatear e ir para a escola que é uma seca e os profs uns coitadinhos? E depois, ao abrigo do +23, vou para o ensino superior. Já não estudei nada (nem sei nada), e agora posso entrar na universidade sem rigorosamente quase nada fazer... hehe e com o processo de Bolonha, tenho uma licenciaturazeca ao fim de 3 anos, e se me apetecer, ainda posso fazer um mestrado..."
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Resultados para o país:

- a nível político: o sucesso é total; os números da escolarização assim o demonstram. Toda a gente tem a escolaridade (no papel, pelo menos!) como nos restantes Estados membros.

- a nível social: ai que bom que a nossa sociedade está a progredir; já não temos aquele nível de iliteracia, que nos mandava para o fim das tabelas do Eurostat.

- a nível económico: oops que as multinacionais continuam a deslocalizar-se para os países de Leste. Será que é por eles lá serem realmente escolarizados, formados e cultos?!... Ou será que é apenas pelos custos da mão-de-obra e da formação dos trabalhadores a nível das empresas?... Será que eles estão melhor preparados para adaptação, reconversão e polivalência da força laboral?...

Ponham os olhos no exemplo da Irlanda, senhor primeiro-ministro e ministros! Não queiram tomar países nórdicos que estão a km-luz a nível social, político e económico (e certamente os finlandeses nunca "certificaram" competências desta forma!) como termo de comparação.
Nos anos 90, a Irlanda vinha atrás de Portugal. O que fez o governo irlandês com os fundos europeus? Apostou na EDUCAÇÃO!! Não na construção de auto-estradas e na implementação de cursos a fundo perdido que para nada serviam a não ser engordar carteiras (de alguns, claro!) Hoje, a Irlanda está lá, mais próxima da tão almejada Finlândia... E nós, por este andar, vamos na direcção oposta...
Se os senhores continuarem assim, a promover a chico-espertice e a fazer ilusionismo com os números (estatísticas, défice, orçamento), não chegamos lá. Ai não chegamos, não!

2 comentários:

Maria Felgueiras disse...

Sem dúvida!

Vee disse...

Onde será que isto vai parar? Sabes dizer?